sexta-feira, 2 de março de 2018

A Infância Perdida.

01.03.2018.
Pensamento do Dia.
Há passadistas dizendo que Internet tirou a infância das crianças. Estranha esta frase, porque em nenhuma das outras fases da vida a infância reaparece. Dizer "infância das crianças" é vício de linguagem chamado de pleonasmo. Quando eu era menino, existia, como mídia, apenas o rádio, e os adultos determinavam que as crianças não deveriam escuta-lo porque as notícias transmitidas eram impróprias para a nossa inocência. Depois, eu já no começo da pré-adolescência, surgiu a televisão, e os adultos tentaram impedir o acesso à nova mídia, criticando as programações como um atentado à ética e bons costumes da família brasileira. Quem mais lutou contra a ausência de uma censura prévia da televisão foi a Igreja Católica Apostólica Romana, a qual tinha experiência, vivenciada em outros países, de que aquele novo veículo de comunicação de massa, progressivamente, provocaria, nos segmentos mais populares da sociedade, um aculturamento prejudicial à hegemonia exercida pela Igreja Romana, principalmente, nos países com elevado índice de analfabetismo, como era a situação cultural do Brasil no decorrer dos três primeiros quarteis do século XX. Não sou saudosista, o ambiente da minha infância e adolescência foi de um primitivismo abissal. Somente após o admirável legado do governo presidencial do dr.Juscelino Kubitschek de Oliveira, é que o Brasil começou, sofridamente, construir sua personalidade como nação de reconhecimento internacional. Hoje, presencio toda uma imensa geração, composta de crianças, pré-adolescentes, adolescentes, e de maioridade civil, operacionalizando, feliz e precocemente, todas as mídias disponíveis. No primórdio da minha vida eu era infeliz e não sabia, mas agora posso dizer galhardo que a Internet não tiraria a minha infância porque não poderia faze-lo daquilo que nunca tive. Hárifhati, o poeta sufi do deserto.