segunda-feira, 11 de maio de 2015

O preconceito


Quero completar o artigo do articulista, Rodrigo Cortijo, contando uma história acontecida na, então, escola Atual. Morávamos à mil passos da escola. Minha falecida ex-esposa, Aparecida Fátima Fracassi, mulata de beleza impar, sempre buscava nossos filhos vestida com o cotidiano doméstico. Fátima era mais escura que os filhos, e estes tinham acentuada fisionomia semita paterna. Naquele dia, ao entregar as crianças, a professora pediu para que Fátima avisasse à mãe dos alunos para vir ao colégio, no dia seguinte, para tratar de assuntos correlatos. No dia do aprazado, Fátima, toda produzida, foi à reunião. A professora, diante daquela figura afrodescendente, altiva, dominante, bem vestida, e belíssima, pediu, constrangida, veementes desculpas pelo equívoco. Fátima, do alto de sua vingança, respondeu: Eu entendo, não se preocupe, faz muito tempo que estou acostumada com esse tipo de comportamento. O articulista, Rodrigo Cortijo, é um moreno escuro, avermelhado, próprio dos beduínos do Oriente Médio, como o seu pai, e seus avós paternos. Sua irmã, Roberta Fracassi Cortijo é uma morena clara, amarronzada, própria dos afrodescendentes, ainda que tenha traços fisionômicos dos árabes nômades do deserto. Certa vez, Rodrigo Cortijo, desejoso de se mudar para os Estados Unidos da América do Norte, aconselhei não faze-lo, porque, fatalmente, seria identificado com um terrorista islâmico. O preconceito e a discriminação não são questões educativas, são recursos sócio- econômico-financeiros, através dos quais a sociedade dominadora arregimenta mão de obra escrava. Tenho dois grandes amigos, "Todo Mundo e Ninguém". Em termos de preconceito e discriminação, Todo Mundo esconde e Ninguém fala que a gênese do terrorista internacional esta no fundamentalismo, como uma resposta revoltante contra a escravatura dos povos mantidos utilitariamente em uma civilização ainda primitiva. O terrorismo não é o veículo adequado, mas é o único que a sociedade dominante deixou, temporariamente, ser a única alternativa extrema, ditada pelo desepero daqueles que nascem, vivem, e morrem sem a esperança de serem reconhecidos como seres humanos. A máxima do herói escravo romano Spártaco nunca foi tão moderna: "Prefiro morrer lutando pela liberdade do que viver abjectamente como escravo".
Hárifhat, o poeta sufí do deserto.

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