sábado, 27 de fevereiro de 2016

Friedrich Nietzsche e a denúncia filosófica.

27.02.2016.

Nietzsche, pensador do século 19, foi o mais radical crítico da filosofia ocidental.

O século 19 foi um período voltado para a modernidade como uma alternativa para a transformação social,  o que poderia garantir um futuro melhor.

Nietzsche estudou sua própria época, a Grécia antiga, e os  gregos pré e pós-socráticos.

Os gregos pré- -socráticos foram anteriores ao surgimento do nosso modo de pensar, e o modelo do nosso pensamento atual  nasceu com Sócrates, Platão, e Aristóteles.

O pensamento pré-socrático era definido pela “arte”, como a mediadora entre todas as coisas, e a verdade, como conceito, ainda não tivera a necessidade de ser criada; o pensamento pré- socrático era baseado na teoria do devir da vida, o qual era um processo em constante transformação aleatória, movida por uma força divina presente na natureza física.

A evolução do pensamento humano, no mundo ocidental, foi determinada pela restrita interpretação filosófica de Sócrates, Platão, e Aristóteles.

Nietzsche, filho de tradicional família alemã luterana, estava inserido em uma cultura religiosa cristã rigorosa.

Nietzsche define a história do pensamento do homem ocidental como sendo a história da negação da vida, através da construção de um modelo de homem ideal que não existe e que jamais existirá porque é, idealmente, muito superior ao que o homem real poderia ser.

Nietzsche tira o antropocentrismo do homem que se considera superior.

Nietzsche, quando analisa a Grécia pré-socrática, denuncia que na vida moderna continua existindo, vigoroso e reprimido, um pensamento riquíssimo de seduções, marcadas pelo corpo físico, sensitivo, e emocional, e pela “arte”.

O radicalismo do idealismo do pensamento filosófico, crítico, e racional de Sócrates, Platão, e Aristóteles, foi uma violenta incisão na história da liberdade do pensamento filosófico ocidental, ao negar, denegrir, e condenar a existência da influência, insubstituível, sadia, e necessária, na formação do homem, enquanto um ser psíquico, da realidade do pensamento filosófico, sensitivo e emocional, aflorado, inevitavelmente, do arquivo de desejos reprimidos no inconsciente do ser humano. (Áfiar, o bardo)

Com Sócrates, Platão, e Aristóteles começa oficialmente a história da filosofia grega.

Na Grécia antiga, o desenvolvimento da crítica racional provocou o nascimento da filosofia pré-socrática e o começo do declínio da mitologia.

A filosofia pré-socrática, na busca pela causa primária do universo cósmico, acabou tendo como denominador comum  o “devir”.

O devir é o movimento permanente, ininterrupto, e atuante, como uma lei  geral do universo que cria e transforma  todas as realidades existentes, uma nas outras.

Antes do século  5, ac., o homem grego antigo sentia a vida como uma potência amorfa, oculta, desconhecida, e, em permanente e imprevisível  transformação, o qual, impotente e submisso, diante dessa natureza caótica, teve a necessidade espontânea de conceituar uma interpretação fundamentada em mitos, idealizados com base nas experiências e impressões sensitivas e emocionais, ausentes de crítica racional, e de conceito de verdade.

Nunca fez parte da concepção de vida do homem grego antigo o domínio e o controle das forças da natureza, porém, a partir do século  5, ac., essa realidade mudaria.

Nietzsche foi o primeiro a questionar a importância da verdade, ao indagar “para que e o por que a verdade”.

A verdade, independente da curiosidade humana, é a necessidade psicológica de estabelecer, no mundo, diante do medo da morte, o sentimento da temporalidade.

Incapaz de viver a vida como, realmente, ela é, o homem escreve a sua história através da conceituação do dogma da verdade.

Nietzsche diz que, diante o dogma da verdade, o homem escreve uma história, para si mesmo, fundamentada no niilismo.

No mundo ocidental, o niilismo começou no século 16, atingindo os valores metafísicos da filosofia de Platão, assumidos e ajustados pelo Cristianismo, influenciado pela teologia judaica, e conservados durante a Idade  Média , cujo contesto, ainda, abrange: a vida terrena sensitiva como pecaminosa, a essência pura da vida espiritual após a morte, e a verdade divina atingível pela fé.

Niilismo negativo é aquele em que a vida terrena, real, do corpo físico, sensitivo, emocional, prazeroso, doloroso, é negada, pela fé, em favor de outra vida, de pureza espiritual, após a morte, idealizada pelo antropomorfismo e antropopatia filosófico platônico, ou pela teologia cristã.

Niilismo reativo é aquele em que a vida, de pureza espiritual após a morte, idealizada pela filosofia-teológica  platônica-cristã, é negada em favor desta vida terrena, real, do corpo físico,sensitivo, emocional, prazeroso, doloroso, numa reação categórica substanciada, afirmativamente, pelas modernas e sucessivas descobertas, inventos, e desenvolvimentos científicos e tecnológicos.

O avanço da ciência e da tecnologia determinou o recuo do antropomorfismo e da antropopatia filosófico e teológico.

Do niilismo reativo surgiu o “niilismo da modernidade”.

O niilismo da modernidade é a idealização de um futuro onde, em consequência das ininterruptas descobertas, inventos, e desenvolvimentos científicos e tecnológicos dos recursos e das utilidades físicos-materiais, a vida deverá ser sempre satisfatória e agradável.

Se antes era negado o presente de uma vida real, terrena, sensitiva, emocional, em favor da idealização de uma futura vida de pureza espiritual, após a morte, agora, não se vive o presente porque uma nova vida real, terrena, sensitiva, emocional, é idealizada, para antes da morte, em um futuro do imediato amanhã. (Áfiar, o bardo)

Entretanto, a idealização, de qualquer futuro, alheia o homem do tempo presente, do devir,  do conflito e da contradição permanente da sua miserável existência.

O ideal de qualquer futuro é o ideal da felicidade.

Como o ideal da felicidade não sofre o impacto das transformações reais da vida, ninguém poderá viver o ideal porque este é impossível de ser atingido.

Em ambos os niilismos, negativo e reativo, há uma rejeição da vida real, terrena, sensitiva, emocional, presente, em favor de valores futuros: primeiro, do abstrato metafísico, segundo, do concretismo progressista.

Nietzsche

Além do homem (super  homem) é o homem que supera a si mesmo para ser uma expressão celular, sensitiva, emocional, e imanente da manifestação espontânea da realidade caótica da natureza cósmica, na mais possível consciência de liberdade e de independência de qualquer conceito de verdade, filosófica ou teológica, intencionalmente elaborada como racional. (Áfiar, o bardo)

O homem que assume o desafio de superar a si mesmo, objetivando encontrar-se no “além do homem” (super  homem), é porque, através de uma rebelde introspecção, teve a consciência do condicionamento subliminar da idealização subvertida da sua suposta fragilidade.

Ao final da Antiguidade, a Igreja Romana, emergente, teve seu real começo teológico-filosófico com Agostinho de Hipona (354 – 430), doutor clérigo, que cristianizou Platão, conciliando sua teoria filosófica da ideia primordial da criação com o conceito teológico da ideia primordial da criação, pré-existente em Deus abstrato, antes de sua manifestação concreta.
A Escolástica teve seu apogeu com Tomás de Aquino (1225 – 1274), outro doutor clérigo, criador do tomismo, que cristianizou Aristóteles, conciliando sua teoria filosófica das verdades naturais da razão com o conceito teológico das verdades naturais da revelação cristão da fé.

Para Tomás de Aquino, Aristóteles percorreu apenas uma parte do caminho por desconhecer a revelação cristã, e percorrer parte do caminho não é o mesmo que percorrer o caminho errado.

À doutrina transcendental  das filosofias racionais, idealistas, e seletivas de Platão e Aristóteles, foi  acrescentado, da teologia judaica, o conceito do pecado original, e da culpa presumida.

Com este acervo ético-moral, de uma teologia filosófica de natureza  hibrida, o Cristianismo introjetou, no homem comum, a  pecaminosidade  dos impulsos naturais da libido, o condicionamento dos mesmos até a angústia da frustração, a culpa e o arrependimento pela tentação consumada, e a ansiedade pelo perdão redentor.

Diante da miserabilidade da existência terrena, idealizada e imposta pelo Cristianismo, a sociedade do mundo ocidental foi sustentada pelo escravismo psicológico, social, político, e econômico do homem comum, sensível, emocional, ignorante, fragilizado, e acovardado por um conceito ideal  de fé religiosa, interessante e necessária para a manutenção da oligarquia teocrática absoluta, entronizada como a representante terrena de Deus, e da oligarquia do governo secular absoluto coroado pelo “direito divino dos reis”.

O Iluminismo, como um movimento de reação de uma elite social burguesa, não abrangeu o homem comum.

É exatamente esse homem comum, fragilizado e acovardado, que deverá assumir o desafio de superar a si mesmo, objetivando encontrar-se no “além do homem” (super  homem), onde a crise, o conflito, e o contraditório, entre a idealização da vida e a sua verdadeira realidade, são denunciados pelo equilíbrio da reciprocidade física, racional, sensitiva, emocional, psíquica, e espiritual de um homem que, finalmente, poderá viver, apenas, a  imprevisibilidade do seu próprio destino, do qual a única certeza é o benefício da terminação fatal.

A primeira lição a ser aprendida pelo homem é obedecer as  leis, perenes e imutáveis, da natureza espontânea que regem a manifestação da vida. (Áfiar, o bardo)

A sobrevivência do homem depende da sua capacidade de apreensão dessa obediência, e, nesse sentido, a liberdade é  ilusória.

A liberdade é a idealização do prazer na autonomia do sujeito, para o qual, na realidade, a autonomia inexiste, assim como inexiste o “um”, separado  da natureza cósmica

Com os devidos créditos à Dra. Viviane Mosé.

Àfiar, o bardo.


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