quinta-feira, 7 de junho de 2018

O Crepúsculo.

De 1959 à 1964, como membro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), exerci intensa atividade política, chegando a ser um dos jovens emergentes mais promissores. Durante aquele período participei de 14 comícios, nas principais praças públicas dos bairros pobres da cidade de São Paulo, sendo que, para cada evento, escrevi e pronunciei manifestos em defesa das classes populares desassistidas.
Naquela época, o PSB tinha um segmento específico, cujo líder era o tribuno Dr. Cid Franco, advogado, escritor, poeta, e radialista de imensa aceitação popular, que, eleito vereador em 1948, e deputado estadual por quatro legislaturas, de 1950 à 1962, idealizou o chamado “socialismo espiritualista”, o qual, com algumas conceituações pessoais, assumi como minha bandeira político-partidária.
O golpe militar de 31 de março de 1964 destruiu, de forma imediata, lacônica, e por 21 anos, minhas nascentes aspirações progressistas.
Como consequência sumária do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964, intimado para, em 30 de abril, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Delegacia do Estado de São Paulo, perante o delegado federal, Dr. Cícero Stefani, prestar satisfações quanto as minhas ideologias e comportamento político-partidário pregresso, foi me oferecida a alternativa de “livremente” optar pela assinatura de uma declaração jurídica de retratação pública, de inteiro teor, através da qual demitia-me do PSB, por reconhecer, naquele partido, determinados posicionamentos atentatórios à plena soberania da Carga Magna da República.
Acovardei-me, e assinei o documento, símbolo da minha rendição.
Conforme determinações do Ministério do Trabalho, do regime do Governo Militar, meu empregador, notificado da minha intimação, demitiu-me, por justa causa, alegando “ocultação de conduta ideológica”, alegação, esta, que dava ganho de causa. aos empresários, nas ações trabalhistas movidas pelos desempregados, dessa situação, que compunham um grupo de absoluta minoria.
A privação de recursos monetários foi a primeira ação do regime do Governo Militar para impedir reações imediatas contra o novo Estado..
Conformado com a nulidade da ação trabalhista, fiquei quinze meses sem trabalho registrado, e sobrevivendo de economias, e de eventuais serviços de consultoria contábil.
Durante esse período de escassos meios de subsistência, e mesmo após, fui convidado para participar de grupos subversivos de resistência armada contra o regime do Governo Militar. Recebi promessas de substancial dinheiro futuro para integrar um seleto corpo de intendência operacional, cuja incumbência seria elaborar planos de ação conjunta, nas pequenas cidades de todo país, para conseguir dinheiro, armas, munições, e transportes, através de assaltos às agências bancárias, aos paióis de quartéis, às delegacias de polícia, e aos sequestros de familiares de grandes empresários. Na minha veemente recusa mencionei o epíteto do socialismo espiritualista pronunciado, em outros tempos, pelo saudoso Dr. Cid Franco, nos seguintes termos:
“Sou, hoje, um espiritualista convicto que luta pelo socialismo, e que luta contra a ganância capitalista, por meios legais, parlamentares, e democráticos. Ideológica e praticamente não aceito nenhuma espécie de ditadura. Oponho-me à ditadura proletária dos russos que surgiu como provisória e se tornou definitiva. Prezando, acima de tudo, a liberdade de pensamento e da palavra, considero um erro e um perigo a política de perseguições e de prisões por ideias. As ideias combatem-se com ideias, e não com a força, e nem com a violência.”
Não pretendi demover ninguém, apenas, fundamentei minha repulsa aos convites recebidos.
Finalmente, aceito como candidato à uma vaga, e cumprindo a exigência, da época, de apresentar atestado de antecedentes criminais, fiquei surpreso e satisfeito com o resultado, que declarava meus antecedentes criminais impolutos.
Iniciei a reconstrução de minha vida.
Paradoxalmente, foi durante o regime do Governo Militar que pude usufruir de um ambiente político, burocrático, e operacional, que permitiu alcançar o apogeu de minha carreira como administrador técnico de empresas de seguro, pautada por conceitos, éticos e morais, da mais intransigente e ortodoxa honestidade de propósitos, nos contatos sistemáticos com as autarquias federais dos ministérios pertinentes.
Não sejamos ingênuos e inocentes, pois é óbvio que durante o regime do Governo Militar houve abuso, porém, menos do que os governos civis anteriores, e muitíssimo menos do que os governos civis posteriores, notadamente no que se refere à presidência esquerdista exercida, desgraçadamente, na República, pelos corruptos e corruptores do Partido dos Trabalhadores, prenunciado como o defensor da ética e da moral no trato do patrimônio das coisas públicas.
Portanto, para as pessoas que proclamam sua auto qualificação de torturados pelos agentes torturadores do regime do Governo Militar, questiono: -o que a pessoa fez , de tão terrível, que motivou seu aprisionamento e a sua consequente tortura? -que informações, tão decisórias e tão segredadas que, descobertas, pudessem perigar a vitória do movimento terrorista, que justificasse uma extração por meio de tortura; -qual a importância pessoal de torturado, dentro da organização terrorista, ao nível de segredar informações capitais?; -se as informações não foram reveladas, como o torturado sobreviveu?; - se as informações foram reveladas, como o torturado foi referenciado pela organização terrorista?; -por que o torturado é reticente no relato das circunstâncias da sua tragédia pessoal?; -onde a verdade se confunde com a mentira?.
Concluindo, quando de minha passagem pela Escola Estadual Prof. José Calvitti Filho, todos os professores, ditos como esquerdistas, com os quais tive contato, não tinham conhecimento dos conceitos filosóficos do comunismo como ideologia política. Nunca leram ou estudaram as obras acadêmicas e doutrinárias do filósofo alemão, Karl Marx, e do pedagogo teórico italiano, Antonio Gramsc. Seus conhecimentos sobre o comunismo estavam circunscritos à resumos e análises de segunda mão, contidos em livros de autores de credibilidade duvidosa. Quanto a serem divulgadores, nas salas de aula, para a plateia estudantil, do esquerdismo brasileiro, tardio e reacionário, nem para isso se qualificavam, pois eram pessoas psicologicamente em conflito com si mesmas, insatisfeitas com os seus resultados profissionais, e sonhadoras com uma falácia social, que fracassou em todas as sociedades que sofreram as consequências da tentativa de um comunismo que se transformou numa, desumana e sangrenta, ditadura escravocrata de Estado.
Quanto ao atual PSB, recriado em 01.07.1988, do qual só restou a legenda, tem tido uma trajetória que enlameia seu passado, arregimentando, como seus correligionários, uma verdadeira escumalha de pessoas, que entram na política em causa própria, atentando contra todos os valores honrados e dignificantes de uma verdadeira democracia republicana.
Jáagora, o peregrino.

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