quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Friedrich Wilheim Nietzsche e o Nazismo - Crônica Nietzsche n.001

O pensamento de Nietzsche, chamado, entre outros, de o "discurso filosófico da modernidade", teve inúmeros, diferentes, e contraditórios desdobramentos, desde sua morte, em 1900, até a segunda década deste século 21, e continua tendo, haja visto a presente abordagem.

Um desses segmentos, o mais intencionalmente pernicioso, foi a associação do pensamento nietzscheniano com o nazismo, apresentado como uma legitimação filosófica antecipada de um regime político totalitário.

Primeira conclusão histórica obstante.

A distância cronológica entre o período de vida de Nietzsche e a época da eclosão do movimento nazista.

Nietzsche, nascido em 1844, teve dois falecimentos: o físico, em 1900, aos 55 anos, e outro, em 1889, aos 44 anos, quando da perda completa de suas faculdades mentais.
De 1899 até 1939, data do efetivo começo da guerra expansionista da Alemanha nazista, decorreu meio século de sucessivos acontecimentos geopolíticos imprevisíveis.

Segunda conclusão histórica obstante.

Consequências da Primeira Grande Guerra.

A desencadeadora consequência da Primeira Grande Guerra, ocorrida de 28.07.1914 à 11.11.1918, foi o Tratado de Versalhes, assinado em 28.06.1919, e vigorado a partir de 10.01.1920.
Os encargos exacerbados para o cumprimento das cláusulas do tratado, por parte da vencida Alemanha, criou as condições de exaustão econômica, política, e social que provocaram o fim da República de Weimar e a ascensão de Adolf Hitler ao poder, como o líder máximo e convergente do nazismo alemão.

Terceira conclusão história obstante.

A diretriz ideológica do Nazismo.

O nazismo deve suas origens às influências diretas de dois pensadores políticos, nacionalistas, e populistas de centro-direita: o alemão Johann Gottlieb Fichte e o austríaco Georg Ritter von Schonerer.
O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, tornado a única representação partidária nazista, ao ser fundado e reconhecido, em 1920, proclamou seu "Programa de 25 Pontos", essencialmente de extrema direita, tendo como objetivo político, social, e administrativo a não alternância de poder, o antiparlamentarismo, o pangermanismo, o racismo, o coletivismo, a eugenia, o antissemitismo/antijudaísmo, o anticomunismo, o totalitarismo, e a oposição radical ao liberalismo econômico e político.
Adolf Hitler, ao assumir o poder em 1933, denunciou o Tratado de Versalhes como uma conspiração judaico-comunista para subjugar a Alemanha, traída em uma guerra que lhe favorecia a vitória.
Treze anos após, os, então, governos, dos países signatários do Tratado de Versalhes, compreenderam, tardiamente, o erro cometido com os excessos do montante da dívida de guerra atribuída à Alemanha; entretanto, não tiveram as condições e nem a coragem necessárias para obrigar o cumprimento integral do tratado, até as últimas consequências, diante de um líder determinado e colérico como Adolf Hitler, que, naquele momento, vivia a sua maior glória pessoal, convergindo a indignação da injustiça imposta, e a esperança de reerguimento de todo um povo sofrido, desejoso de se ver, novamente, como uma nação forte, varonil, temida, e soberanamente germânica.

Quarta conclusão histórica obstante.

Elisabeth Forster-Nietzsche, irmã de Nietzsche.

Elisabeth, nascida em 1846, dois anos mais nova, foi muito apegada à Nietzsche até o seu casamento com Bernhard Forster, conhecido nacionalista e antissemita alemão, suicidado, no Paraguai, em 1889, aos 46 anos, no mesmo ano em que Nietzsche perdeu a razão.
Em 1893, Elisabeth retorna à Alemanha, encontrando seu irmão sob os cuidados de Franziska Oehler-Nietzsche, mãe de ambos.
Em 1894, Elisabeth, zelosa com preservação da originalidade do pensamento de Nietzsche, cria o "Arquivo Nietzsche", do qual foram expurgadas as referências do estudo da filosofia de Max Stirner, e as anotações da novela "Os Endemoniados", de Dostoyevski, de quem Nietzsche era declarado admirador; sendo esta a primeira intervenção danosa no acervo cultural de seu irmão.
Em 1897, ocorre o falecimento de Franziska Nietzsche.
De 1897 até 1900, data da morte de Nietzsche, Elisabeth será sua cuidadora física.
De 1897 até 1935, data da sua morte, Elisabeth será a curadora e a editora do acervo literário-filosófico do Arquivo Nietzsche.
A partir de 1914, Elisabeth, então, uma senhora com 68 anos de idade, enfrentará, com todos os demais povos das nações envolvidas no conflito, as desgraças e as misérias da Primeira Grande Guerra.
A partir de 1920, Elisabeth, então, uma idosa com 74 anos de idade, enfrentará, junto com todo povo alemão, durante o governo da Repúblida de Weimar, todas as desgraças, misérias, humilhações, e injustiças impostas à Alemanha vencida, pelo Tratado de Versalhes.
Em 1930, diante da formidável campanha política, para a tomada do poder, abrangendo virulentas acusações infundadas de supostas traições da oligarquia da República de Weimar, e do segmento da minoria do povo alemão de miscigenação judaica, Elisabeth, tanto nacionalista como antissemita, seduzida pelas promessas da hegemonia alemã, proclamadas por Adolf Hitler, aos 84 anos de idade, achando ter tido justificadas razões em defesa de sua própria sobrevivência, se tornou seguidora do Partido Nazista.
Em 1933, quando Adolf Hitler assumiu o poder, Elisabeth, então, com 87 anos de idade, recebeu, do Partido Nazista, considerável apoio econômico e publicitário para que determinadas obras do Arquivo Nietzsche, de interesse do novo governo, fossem divulgadas, por todo o país, o que prejudicou, sobre maneira, a imagem do filósofo, bem como e entendimento do verdadeiro determinismo da filosofia nietzscheniana, junto aos opositores e inimigos do nazismo, durante e depois do fim do regime hitlerista, tanto na Alemanha, como no resto do mundo.
Elisabeth foi uma competente curadora e editora do legado filosófico de Nietzsche, mas não teve escrúpulos em especular os remanescentes manuscritos inéditos de seu irmão, para a edição póstuma do livro intitulado "A Vontade de Poder", no qual foram inseridas questionáveis e repulsivas interpretações teóricas tendenciosas à legitimação filosófica da doutrina política racial do germanismo nazista, e a solução definitiva da limpeza étnica do segmento da minoria do povo alemão de miscigenação judaica, adotadas por Adolf Hitler.

Quinta conclusão história obstante.

A reintegração de Nietzsche

Em 1954, nove anos após o fim da Segunda Grande Guerra, e superada a censura intolerante das autoridades soviéticas, surgiram as primeiras condições mínimas necessárias para que pensadores, de diversas origens e formações, comprometidos com a verdade, pudessem iniciar estudos comparativos das obras e manuscritos originais do Arquivo Nietzsche, cujo resultado foi a denuncia da falaciosa apropriação intelectual feita pelo regime nazista, e a reintegração da verdadeira figura humana, e do autêntico pensamento filosófico de Nietzsche.
Dentre os vários filósofos, que iniciaram a restauração das obras e da imagem de Nietzsche, citamos Gabriel Marcel, Maurice de Gandillac, Giorgio Colli, e, principalmente Mazzimo Montinari, que acusou, diretamente, a impropriedade do livro "A Vontade de Poder", cujos manuscritos que compuseram a obra foram escolhidos e adulterados pela irmã Elisabeht Forster-Nietzsche, com a participação de Johan Peter Gast, amigo íntimo, e traidor póstumo do pensamento do filósofo.

Peroração

A obra de Nietzsche sobreviveu à todas adversidades atraídas pela genialidade única de sua crítica veemente ao estado racional de submissão filosófica e teológica em que se encontrava a sociedade ocidental até o momento contemporâneo da sua consciência.

Todavia, por mais impactante que possa ser, a obra de Nietzsche perdura até agora, nesta época transitória, das mídias globais informatizadas pela internet, porque a crítica do seu pensamento filosófico é de uma fantástica atualidade.

Tudo evolui, inclusive a crise, o conflito, o contraditório, o desejo, o medo, o castigo, a miséria, e a frustração, física, racional, sensitiva, emocional, psíquica e espiritual, do homem eternamente moderno.

Cortijo, Roberto, o Ir.'.




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