quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Capitalismo Liberal, de Estado, e os Mega Capitalistas.


Quando as grandes fortunas globais atingem um nível de grandeza irreversível seus detentores passam a raciocinar em termos dinásticos.
A preservação do comando dinástico das grandes fortunas globais depende da dominação do próprio mecanismo da economia de mercado que as constitui, e isto só poder ser feito através da dominação do Estado, enquanto uma representação da sociedade de consumo.
O poder das grandes organizações globais é, até um determinado ponto de equilíbrio, um poder basicamente econômico, que depois se converte em um complemento de poder político-militar, que independerá do curso dos fatores econômicos porque terá obtido os meios necessários e imprescindíveis para dirigir, dominar e estrangular o mecanismo da economia de mercado.
Os detentores dinásticos das grandes organizações globais são chamados de Mega Capitalistas.
Os mega capitalistas transcenderam a condição de capitalista, e se tornaram em uma nova casta aristocrática.
Para os mega capitalistas o capitalismo liberal deixou de interessar.
O capitalismo de estado, politicamente, poderia ser uma alternativa, bastando implantar um estado comunista, mediante a constituição de uma nomenclatura específica, a organização de uma burocracia classista, e o estabelecimento de uma oligarquia dinástica partidária, com efetivo poder político, por tempo indefinido.
Entretanto, em termos econômicos seria inexeqüível, se não vejamos.
O capitalismo de estado, no regime comunista, é uma econômica que, pretendendo ser planificada, determina a estatização de todos os meios de produção e de todos os veículos de especulação financeira e atuarial, para que toda a riqueza, gerada pelo próprio conjunto de segmentos das classes trabalhadoras, possa ser distribuída de forma igualitária e satisfatória para todos os integrantes da sociedade, assim constituída.
A primeira conseqüência, pretendida pelos ideólogos da economia planificada, do capitalismo de estado, era a eliminação automática da economia do mercado de consumidores, bem como as suas oscilações de oferta, procura e lucro.
Porém, a verdadeira e natural economia planificada esta vinculada a um denominador comum chamado “cálculo de preço”, elaborado, justamente, com base nas inevitáveis oscilações da oferta e da procura do mercado de consumidores, cujo lucro é o objetivo sustentador do capitalismo liberal.
Por oposição, os ideólogos da economia planificada, do capitalismo de estado, desconsiderando a existência natural da economia do mercado de consumidores, do capitalismo liberal, conceituaram a teoria do “cálculo do valor macro reativo de transação”, no qual o componente adicional do “lucro” foi equacionado como um “denominador comum ajustador de valores flutuantes”.
Consequentemente, a economia planificada, do capitalismo de estado, foi transformada em uma “represadora de ajustes econômicos, financeiros e atuariais”, cujos resultados negativos, acumulados e irreversíveis comprometeram a sobrevivência política e social dos estados comunistas.
Enquanto isso, a economia planificada, do capitalismo liberal, sempre teve por princípio operacional cultivar e explorar, de forma dinâmica e sistemática, a inerência do ser humano à econômica do mercado de consumidores, desde as eras imemoriais das trocas “in natura”.
A elite econômica governante soviética sempre soube desta realidade.
Ao ser implantado o capitalismo de estado foi admitido, na clandestinidade, um capitalismo liberal, que representou 50% da economia da URSS.
O sucesso do capitalismo de estado era apenas aparente, cujos balanços, demonstrativos e estatísticas, da situação econômica do estado comunista, eram totalmente inventados.
Não havia em nenhum lugar do mundo onde o governo ignorasse com tanta eficácia a realidade nefasta da economia planificada, do capitalismo de estado, como na URSS.
Aquela que parecia ser a economia mais dirigida era a mais anárquica.
A real existência de um capitalismo liberal subterrâneo, na URSS, se evidenciou com o aparecimento imediato de uma elite de milionários russos, logo após a queda do regime comunista, promovida por Mikhail Gorbatchov, e depois continuada por Boris Iéltsin.
Como poderia haver tantos milionários em um capitalismo de estado que proibia a propriedade privada dos meios de produção e dos veículos de especulação financeira e atuarial?
A cúpula soviética deixava que o capitalismo liberal se desenvolvesse clandestino porque era isso que sustentava a economia planificada, do capitalismo de estado.
Os dirigentes do movimento comunista internacional sabem disso há 70 anos.
É esta a política econômica implantada oficialmente na moderna China.
Em um primeiro segmento, há uma cúpula de poder burocrático atuando sobre um capitalismo liberal, composto da maioria dos meios de produção e dos veículos de especulação financeira e atuarial, privatizados, para atender a economia do mercado de consumidores, bem como as oscilações da oferta, procura, cálculo de preço e lucro, abrangendo a política de desenvolvimento do consumo interno e a política de desenvolvimento das exportações.
Em um segundo segmento, há uma cúpula de poder partidário atuando sobre um capitalismo de estado, composto de um limitado conjunto de empresas estatizadas para atender a economia planificada da distribuição igualitária e satisfatória dos bens de consumo coletivo.
Na China, tomada como exemplo de um país auto denominado comunista, a simbiose do capitalismo liberal e de estado tem um único poder unificador: os mega capitalistas.
Na realidade econômica contemporânea, com uma tradição de 250 anos, os mega capitalistas, detentores das grandes fortunas globais, não têm e eliminam todos os possíveis limites e obstáculos aos seus exclusivos interesses.
Os mega capitalistas dominam, controlam, determinam e financiam todos, absolutamente todos, os segmentos, virtuosos e viciosos, da atividade humana, tanto individual como coletiva.
O desejo consumista, concreto e abstrato, individual e coletivo, virtuoso e vicioso, é inerente ao ser humano.
O desejo consumista é a energia propulsora do desenvolvimento do ser humano em sociedade.
O desejo consumista insatisfeito é a energia propulsora de todas as crises e conflitos sociais, em todos os tempos.
A mais ampla exploração do desejo consumista constitui á chamada “sociedade de consumo”.
O mais eficiente instrumento para a contemporânea exploração do desejo consumista é a “Internet”.
O recurso secreto, com o qual os mega capitalistas se mantêm como uma dinastia aristocrática ditatorial, por tempo indefinido, tem dois componentes radicais: primeiro, manter sistematicamente ativo o desejo consumista do ser humano; segundo, não permitir a unanimidade reativa de qualquer pensamento emocional que, dirigido racionalmente, pudesse se constituir em uma ameaça à hegemonia do próprio poder vigente.
As ideologias político-econômicas de direita e de esquerda são dois lados de uma mesma moeda, dependente do desejo consumista de suas respectivas sociedades de consumo, e dominada pelos mega capitalistas, detentores das grandes fortunas globais, presentes e atuantes no capitalismo liberal e no capitalismo de estado.
Alguém teria dito que a única coisa temida pelos mega capitalistas seria o império da “Lei de Mercado”, o que seria uma berrante contradição ter medo de si mesmo.
Hárifhat, o poeta sufí do deserto
Bibliografia: o filósofo Olavo de Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário